Já sonhei em ser famosa, já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e até tentei ser goleira...
Já conversei com o espelho. Já quis ser professora, escritora, motorista e trapezista.
Já passei trote por telefone.
Já tomei banho de chuva e acabei me viciando.
Já roubei beijo e confundi sentimentos. Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já me apaixonei por um ser virtual...
Já raspei o fundo da panela quando minha mãe fazia brigadeiro, já me cortei depilando as pernas, já chorei de tanto rir, já ri pra não chorar... Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de esquecer... Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentada no chão do meu quarto, já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante. Já corri pra não ver lágrimas nos olhos de alguém...
Já fiquei sozinha no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor de rosa e alaranjado...
Já beijei muitas bocas, já bebi uísque até sentir dormente os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo do escuro, já tremi de nervosa, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.
Já andei de avião e voei dentro de um ônibus velho...
Já fui a reuniões de filósofos e de bruxas... Já fiz poesia para um poeta, lí a sorte de uma cigana e me disfarcei de dona de casa... Já usei vestido de noiva, já senti uma vida tomando forma dentro de mim... Já fui dela, dele, deles... Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.
Já senti vergonha de levar um amigo legal lá em casa, já pintei paralelepípedos usando uma lasca de tijolo...
Já rezei, chamei Jeová, ví a fogueira santa, falei de perdão, traí, decorei mandamentos, dei quatro pés para meu orixá...
Já apostei em correr descalça na rua, já gritei de felicidade, já roubei flores num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade. Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.
Já me senti estrela, cor, tom, rima, vítima, opressor... Já fui idealista, de esquerda, de direita... Tentei ser “sinistra”, mesmo sendo destra...
Foram tantas coisas feitas, vivi mil sonhos, descobri muitos mundos, dividi muitos segredos... Mas nada se compara a ter o poder de mostrar de uma vez só tudo o que sou... A soma de mim, simples assim...
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