18 de dezembro de 2009

SAUDADE

Hoje acordei sentindo saudade... Palavra que não sei definir... Sei que não tem forma, mas tem gosto e acho que força...Saudade do cheiro da casa da minha vó, do abraço apertado que se hoje eu fechar os olhos ainda consigo sentir o conforto... Saudade de amigos que chegaram e que partiram sem ao menos um motivo, sem ao menos uma explicação... Saudade de correr descalça, de ver minha mãe arrumando minhas coisas... Saudade de quando eu precisava ficar uma hora chorando para poder lavar a louça do jantar... Saudade de sonhar com a boneca nova (que talvez nunca tenha vindo)... Do beijo roubado no menino mais bonito da escola... Ou das deliciosas compras na cantina... Saudade das minhas aventuras no Sítio, com a Emília e a Narizinho (aí começou meu gosto pelo mundo escrito... Todo o adulto que ainda não leu, que não tenha vergonha, pois é inesquecível...)Saudade de quando ficava olhando a lua cheia da janela do meu quarto e achava que era o espelho de Nossa Senhora... Saudade da Thaís (minha amiga invisível) que por tantas vezes me viu chorar... Saudade do tempo em que achava que por ser a melhor aluna teria meu lugar garantido entre seres especiais, nessa época ainda não sabia que “melhores alunos” existem aos montes, e as oportunidades são poucas... Também precisamos de sorte...Saudade de tomar banho de mar sem me preocupar se o biquíni está na moda ou se a celulite está aparecendo... Saudade das festas... Das músicas... Dos amores que tive e que julgava ser mais forte que o último já vivido... Saudade de brincar, de dormir até a hora do almoço... Saudade de tudo que ficou... De tudo que não pude trazer comigo...

Por tudo isso que sinto agora, digo a cada um de vocês...Aproveite cada minuto, cada sorriso, cada abraço apertado... Cada amanhecer...

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7 de novembro de 2009

Repetidas

Sou andarilha, de alma cigana
Chama que arde insana
A procura de algum lugar
que sei já estar em mim...

Andar para dentro
requer saber andar pra fora ...
Daí crio asas, invado espaços
recrio passos

No final dá tudo na mesma
se é que dá em algum lugar ...
pois quando acho que cheguei
vira começo e surge um novo caminhar ...

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8 de agosto de 2009

Confusões em mim




Vejo o gozo das feiticeiras


O entrelaçar das almas


O amor que não conhece barreiras...


O céu, beijado por estrelas...

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Sou ser / Que eu mesma crio / (RE) crio...


Sem armadilha

Presença sentida

E volto à essência... ((Então sou menina...))


Mas conheço a carne

Ritual satânico

Arder em chamas... ((Então sou profana...))

Recrio as palavras

Invento metáforas

Finjo, minto ((Então sou perigo... ))

Sinto ciúme infantil

Faço pirraça

Assisto ao próprio melodrama... ((Então sou insana...))

Mostro,

desvendo

Invado, prometo

Novamente fico calada... ((Então sou amada...))

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7 de agosto de 2009

Amor por Poesia...

Solilóquio de um Visionário

Para desvirginar o labirinto
Do velho e metafísico Mistério,
Comi meus olhos crus, no cemitério,
Numa antropofagia de faminto!

A digestão desse manjar funéreo
Tornado sangue, transformou-me o instinto
De humanas impressões visuais que eu sinto,
Nas divinas visões do íncola etéreo!

Vestido de hidrogênio incandescente,
Vaguei, um século, improficuamente,
Pelas monotonias siderais...

Subi talvez às máximas alturas,
Mas, se hoje volto assim, com a alma às escuras,
É necessário que inda eu suba mais!


Publicado no livro Eu (1912). In: REIS, Zenir Campos. Augusto dos Anjos: poesia e prosa. São Paulo: Ática, 1977. p.89. (Ensaios, 32)

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26 de julho de 2009

Somando

Define o que sou...
Definindo quem sou
Somando as palavras que são ditas
E as que parecem sempre esquecidas...

Sou a soma da luz e a escuridão
A soma de tudo que já me fez chorar
Do que me fez gargalhar
Da serenidade e do turbilhão...

Sou a soma do mundo que conheço
Com o qual eu imagino que existe, caro em outras vezes sem preço...
Sou a soma das intenções verdadeiras e das inconfessáveis...
A soma dos amores que tive
Daqueles incontroláveis...

Sou a soma do abandono...
E do ficar mais alguns minutos...
A soma do que tenho com o que julgo ter...

Sou a soma das pessoas que encontrei
E daquelas que insisto em carregar comigo
Seja em pensamento... Seja em sentimento...

Sou a soma de pouca razão
Com muita emoção...
Bravura
E cenas de loucura...

Sou a soma de tudo que sonhei em ser
Com o pouco que sou, a ânsia de aprender... Com a gana de ter...

Sou a soma dos seres que me lêem...
Dos que me descrevem...
Com aqueles que realmente me conhecem...

Sou a soma do sagrado do corpo
E o profano da alma,
Da alma santificada
Com corpo amaldiçoado...

Sou a soma da Santíssima Trindade
Com a promiscuidade
De uma masculina feminilidade...

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